segunda-feira, 30 de julho de 2007

Olhar os outros

Andava eu no outro dia pelas ruas de Lisboa a olhar os outros.

Olhava imaginando que pensamentos, motivações, desilusões, orgulhos e medos se esconderiam por baixo das roupas escolhidas, da imagem transmitida, correndo-lhes nas veias e ocupando as suas almas.

Pensei no que é que nos impele à individualidade.
O medo da vulnerabilidade? Mas que vulnerabilidade pode realmente existir no acto de nos assumirmos em plena consciência? Não nos tornaríamos talvez todos muito mais donos de nós próprios do que aquilo que julgamos ser quando nos resguardamos?
É verdade que pode ser algo frustrante tentar abrir o nosso ser a outro ser, porque esse outro terá a sua percepção única daquilo que lhe estamos a revelar, e no final é bem possível e provavel que a imagem que esse ser acaba por guardar de nós - por mais overdoses de honestidade que tenhamos e por mais barreiras protectoras que destruamos - seja mínima ou totalmente incongruente com a nossa verdadeira essência. Mas e depois? Será que o acto de nos abrirmos e expandirmos, independentemente do que isso resultou para outro alguém, não nos proporcionará das sensações mais libertadoras que possamos experimentar? E esse risco de sermos 'incompreendidos' na nossa essência, o que é que significa realmente? A maioria de nós tenta assumir-se como indiferente ao que os outros pensam de nós, mas então se o somos realmente, porque é que nos escondemos?

Sejamos realistas: todo e qualquer um de nós tem algo em si, aspectos da sua vida ou da pessoa que se é, que quer manter inconfessáveis; todo e qualquer um de nós tem o seu lado negro, os seus actos deliberadamente maus, o seu quê de filho-da-puta ou de patético, ou ambos, ou qualquer outra coisa negativa e destrutiva; todo e qualquer um de nós tem aqueles pensamentos que não ousa dizer em voz alta nem para si mesmo, com medo de que se tornem realmente reais, de modo a que tenhamos um dia que os encarar.
Ora se conseguimos ter esta noção, para quê esconder tudo isto?
Mais do que e depois disso, qual o problema em aceitá-lo nos outros, naqueles que amamos? Porque não deixar de lado os falsos choques com a imperfeição dos outros e assumir para nós e para eles que os amamos mesmo assim, porque afinal somos todos iguais?

E se de um dia para o outro todos nos déssemos e todos nos mostrássemos tal e qual como somos? Abrindo para quem quisesse ver e tentar compreender tudo o que nos esforçamos dia após dia por ocultar aos outros, muitas vezes e o que é pior, a nós próprios. Quais serão realmente os riscos desta transformação?

Dedos de hipocrisia apontados como lanças por quem se esconde? Acredito que sim. Mas e se na nossa aceitação de nós próprios fôssemos encontrando nas outras pessoas também aceitações delas próprias? E se descobríssemos que toda e qualquer relação humana se tornaria muito mais pura, intensa e verdadeira deste modo? Mais ainda, se descobríssemos que é realmente - e talvez apenas - possível encontrar a Felicidade com os nossos defeitos assumidos em vez de dissimulados por racionalidades construídas por e para nós?

Julgo que esta será a maior sensação de liberdade que possamos experimentar: viver connosco próprios e mostrá-lo a toda a gente.

3 comentários:

Anónimo disse...

Notei que nao tens nenhuns comentarios ás tuas criaçoes.
Nao é por essa razao que estou a comentar este texto, mas sim porque identifico-me com ele pois eu costumo fazer o mesmo, agora nao tanto pois ja nao ando de transportes lol.
Mas quero dizer te que continues com este teu hobbie se é que posso chama-lo de hobbie?

e isto é pra ti:

Não é algo que sonhe
Tive-te quando mais queria
Ficaste enquanto quisemos
E partiste quando quiseste

Não era fundamental
Partilhar mais do que nós
Quando te tive temi que me quisesses
E quis-te muito forte quando partiste

Talvez volte a ter-te
Alterarei o que escrevi
Não que a história mude,
Essa repetir-se-á

Sinto que só assim,
Com mais uma vez
Terei um ponto final

Não, não pensei que tinhas algo a esconder
Pareceu-me tão claro o que nos estava a acontecer
Se o que trocámos não conta, eu não quero viver
Construí uma mentira que me está a corromper.

A Mentira do vosso amor
Está na fonética da própria palavra que tu banalizas diariamente
Eu nunca amei com o vosso amor
Eu sempre deixei o bater do meu coração compassar os meus movimentos

Hoje chamam-me de sonhador
Porque eu trago comigo os vossos sonhos para realizá-los antes que o Sol se aposente
Eu apenas quero o calor
Do teu abraço quando a vitória chegar e nos deixar seguir em frente

Não é amor esse amor que me entregas timidamente
Não é amor esse sorriso que nasce hipocritamente
Não é amor esse amor que fazes selvaticamente
O amanhecer vos deixará mais diferentes e indiferentes

Meu amor vem da agonia dessa mulher que te venera
E vem da melodia da balada mais sincera
Meu amor vem desse Inverno que te oferece a primavera
Meu amor vem desse amor que ainda te espera

A Outra disse...

Olá Anónimo

Toma uma música de volta, para ti:

Once I found a man who told me not to run
You can't hurry what is meant to come
Days passed and I stayed lookin' for what I've done
Yeah baby, it's time to run

Don't leave my side, don't even try
'Cause baby I can't take it
Don't choose to hide or show your pride
'Cause baby I can break it
You lost your heart, there's a missing part to love and care
So don't say that I'm yours

Once I found a boy and he wanted to be free
He doesn't know, but he's stucked on near
Days passed and he stayed lookin' for what he has done

I'm your ghost wherever you go, I'm with you
You're the most, you can't give up
I'm with you
So calm, so prude
You'll fight my due

Don't leave my side, don't even try
'Cause baby I can't take it
Don't choose to hide or show your pride
'Cause baby I can break it
Don't say you're strong or get me wrong
'Cause baby I can make it

Don't change your mind
You're gonna find your way back home

A Outra disse...

Espero que já o saibas, mas quero dizê-lo mais uma vez: independentemente de tudo, se alguma vez precisares de uma mão que agarre na tua, de alguém que acredite não só naquilo que és mas em tudo o que podes ser, de alguém que te oiça e goste de ti, continuo a estar aqui.

Beijo grande