quinta-feira, 17 de maio de 2007

Apetece-me dizer-te que te odeio

Apetece-me dizer-te que te odeio. Odeio-te com tudo o que sou, por todos os poros do meu corpo. Odeio-te por me teres feito apaixonar com toda esta força que moveu e abalou o meu mundo inteiro. Odeio-te porque essa paixão se transformou no Amor mais forte, real, puro, profundo, resistente a tudo o que passou, a tudo o que se há-de passar, verdadeiramente incondicional.

Esse mesmo. Aquele que eu queria encontrar em cada dia que amanhecia, aquele que eu sabia existir sem nunca ter experimentado, aquele que me ía arrebatar sem aviso e transportar para a maior Felicidade que algum Ser é capaz de sentir, porque por ele e contigo ía construir, manter e criar tudo o que fosse necessário para que nos realizássemos, juntos, interligados, sempre.
Ah, como te odeio.

Odeio-te porque sinto o raio do Amor que sempre quis sentir, por ti, pela alma que vejo por trás do azul, a alma que sinto no toque da tua pele, no conforto calmo do teu abraço seguro, aquela que está lá quando, contigo perto, fecho os olhos, aquela que me falta, me rasga, me parte, me divide e incompleta por não estar comigo enquanto caminho e nos procuro.

Odeio-te porque me privilegiaste no dia em que me apaixonei por ti para pouco tempo depois me arruinares com o choque de frente à realidade da tua inconsonância com tudo o que passou a fazer parte de mim. Tu não me Amavas de volta. Tu não sentias a minha alma de mãos dadas misturando-se com a tua através do tempo, do espaço, do físico, do abstracto, deste plano e talvez de outros. Tu não viste que eu e tu tínhamos que ser nós. Tu não soubeste, não viste nem sentiste nada do que me proporcionaste.

Odeio-te porque em vez de nos veres, de nos quereres e nos protegeres, destruíste-me enquanto eu o tentava fazer sozinha.

Odeio-te porque já não consigo imaginar outros caminhos, desvios, novos rumos, diferentes objectivos, qualquer porcaria que me dê força para levantar, afastando-me de ti muito mais que fisicamente, que me dê vontade de viver, de lutar, de te ultrapassar e que no percurso me deixe aberta a uma nova e diferente felicidade.

Odeio-te porque traíste vergonhosamente a confiança que depositei em ti, agarraste no meu apreço por mim própria quase recém-conquistado e deitaste-o em qualquer sítio longe de mim novamente. Reduziste todas as lutas que tinha travado e que me tinham ajudado a ser quem era, que me tinham ajudado a gostar de mim, a sentir-me ser alguém, capaz, a recordações inúteis de algo que fui, agora inexistente.

Odeio-te porque voltei a ser pequena, porque me obrigaste a ter que lutar nessas batalhas que pensei extintas e porque para além disso ainda levaste contigo a força que em tempos tive.
Odeio-te porque às vezes já nem me sinto gente, porque não foste capaz de me ajudar a curar as feridas que abriste, porque não me devolves o que levaste, porque o que te dei não teve retorno e eu não soube deixar de continuar a dar-me.

Odeio-te porque foste a pessoa que mais Amei, a quem mais dei e que mais me falhou.

Porque me obrigaste a sentir de novo inútil, fraca, dispensável, inferior a todos.
Porque não sei sair disto, porque preciso de ti mas tu não estás para mim como quase nunca estiveste, porque nunca aprendeste.
Porque as lágrimas me molham enquanto escrevo e porque a única verdade que existe em mim continua a ser apenas o que sinto por ti.

[Quarta-feira, 11 de Abril de 2007]

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